Mal te deixo,
continuas em mim, cristalina
ou trémula,
ou inquieta,por mim mesmo ferida
ou cumulada de amor, quando os teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem cessar te entrego.
Meu amor,
encontrámo-nos,
sedentos, e bebemos
toda a nossa água e todo o nosso sangue,
encontrámo-nos,
com fome,
e mordemo-nos
como o fogo morde,
deixando-nos em ferida.
Mas espera-me.
Guarda a tua doçura.
Eu te darei uma rosa!
Pablo Neruda
E tu, mesmo sem estares aqui continuas a meu lado
ResponderEliminarVasco (teu)
"Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação."
Nuno Júdice