sábado, 15 de maio de 2010

continuas em mim



























Mal te deixo,
continuas em mim, cristalina
ou trémula,
ou inquieta,por mim mesmo ferida
ou cumulada de amor, quando os teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem cessar te entrego.



Meu amor,
encontrámo-nos,
sedentos, e bebemos
toda a nossa água e todo o nosso sangue,
encontrámo-nos,
com fome,
e mordemo-nos
como o fogo morde,
deixando-nos em ferida.



Mas espera-me.
Guarda a tua doçura.
Eu te darei uma rosa!









Pablo Neruda 






















1 comentário:

  1. E tu, mesmo sem estares aqui continuas a meu lado

    Vasco (teu)

    "Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
    puxaste-me para os teus olhos
    transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
    ainda apanhámos o crepúsculo.
    As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
    diferente inundava a cidade. Sentei-me
    nos degraus do cais, em silêncio.
    Lembro-me do som dos teus passos,
    uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
    e a tua figura luminosa atravessando a praça
    até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
    o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
    continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
    essa doente sensação que
    me deixaste como amada
    recordação."

    Nuno Júdice

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