sábado, 8 de maio de 2010

é mais fácil deixar que as coisas não mudem

































Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.





Nuno Júdice
















2 comentários:

  1. E gosto de aparecer no meio das tempestades...
    E gosto de olhar a rua de madrugada, mesmo às seis da manha, apesar de nao gostar de acordar cedo por norma
    E gosto de ouvir cantar e de (apesar da voz) cantar
    E prefiro a voz da Ana Carolina à da Gal Costa

    http://www.youtube.com/watch?v=dvTExT9P3SI

    "Lembro-me agora que tenho de marcar um
    encontro contigo, num sítio em que ambos
    nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
    das ocorrências de vida venha
    interferir no que temos para nos dizer. Muitas
    vezes me lembrei de que esse sítio podia
    ser, um lugar sem nada de especial,
    como um canto de café, em frente de um espelho
    que poderia servir de pretexto
    para reflectir a alma, a impressão da tarde,
    o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
    quando é preciso encontrar uma fórmula que
    disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
    que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
    aquela que permite a passagem à comunicação
    mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
    de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
    leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
    ser, como se uma troca de almas fosse possível
    neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
    me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
    vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
    isto é, a porta tinha-se fechado até outro
    dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
    as palavras caem no vazio, como nunca tivessem
    sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
    um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
    para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
    é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
    trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
    seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
    do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
    encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
    o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
    que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
    que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
    das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros."

    Nuno Júdice

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  2. Esse texto encontrei uma vez numa parede em Toledo... amei... gostava que uma vez escrevessem também numa parede para mim :)

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