sábado, 15 de maio de 2010

mas tenho medo


























Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.






 Eugénio de Andrade







2 comentários:

  1. E sei que não estás... e tenho saudades... fica o meu mundo à tua espera

    Vasco (teu)

    "O meu mundo tem estado à tua espera; mas
    não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
    nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei
    que um poema se escreveria entre nós dois; mas
    não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
    não perfumei o decote do vestido.
    Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
    (mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
    se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira –
    estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
    com a violência de um incêndio; mas parto
    antes de saber como seria. Não me perguntes
    porque se mata o sol na lâmina dos dias
    e o meu mundo continua à tua espera:
    houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
    e amores imperfeitos – Deus tem as mãos grandes"

    Maria do Rosário Pedreira

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  2. ainda estou, vou estando de esguelha nas paisagens e amores imperfeitos

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