quinta-feira, 13 de maio de 2010

não me importo com nada do que me digas




































Hoje podes deitar-te na minha cama
e contar-me mentiras - dizer, não sei,
que o amor tem a forma da minha mão
ou que os meus beijos são perguntas que
não queres que ninguém te faça senão
eu; que as flores bordadas na dobra do
meu lençol são de jardins perfeitos que
antes só existiam nos teus sonhos; e que
na curva dos meus braços as horas são
mais pequenas do que uma voz que no
escuro se apagasse. Hoje podes rasgar
cidades no mapa do meu corpo e
inventar que descobriste um continente
novo - uma pátria solar onde gostavas
de morrer e ter nascido. Eu não me
importo com nada do que me digas esta
noite: amo-te, e amar-te é reconhecer o
pólen excessivo das corolas, o seu vermelho
impossível. Mas amanhã, antes de partires,
não digas nada, não me beijes nas costas
do meu sono. Leva-me contigo para sempre
ou deixa-me dormir - eu não quero ser
apenas um nome deitado entre outros nomes.










Maria do Rosário Pedreira


























2 comentários:

  1. E esse correio, acredita, são cartas em papel perfumado :)

    "desenha com a ponta dos teus dedos
    as fronteiras exactas do meu rosto
    as rugas, os sinais, a cicatriz que ficou da infância
    o lento sulco das lâminas onde no peito
    se enterra o mistério do amor
    e diz-me o que de mim amaste
    noutros corpos, noutras camas, noutra pele
    prometo que não choro
    mas repete as palavras um dia minhas
    que sem querer misturaste nas tuas
    e levaste com as chaves de casa e os documentos do carro-
    e largaste sobre a mesa com o copo de gin a meio
    na primeira madrugada em que me esqueceste"

    Alice Vieira

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  2. papel perfurmado e acrescido de petalas secas de amores perfeitos e sardinheiras das floreiras da varanda.

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