domingo, 25 de setembro de 2011

que nem dás por mim
















Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.



Eugénio de Andrade







6 comentários:

  1. (é engraçado notar o fio condutor das coisas bonitas, não é?)

    :)

    beijinho*

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  2. Eu dou! :)
    como sempre um primor de escolhas. Beijo

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  3. é verdade, sim, Vanessa, e cumplicidades que se sentem, à distância :)
    beijinho*

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  4. ah Joãozinho, tu dás...
    obrigada, fazes-me sorrir :)
    beijo

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  5. É duro calar as coisas que queremos tanto falar..Eugénio sempre fabuloso..bj e boa semana

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  6. eterno e frágil Eugénio...
    boa semana, Quim!

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