domingo, 22 de janeiro de 2012

já não estás só



















Tocas um corpo, sentes-Ihe o repetido tremor
sob os teus dedos, o cálido andamento do sangue.
Observas-Ihe o lânguido amolecimento,
as suas sombras corporais, o seu desvelado esplendor.
Não há palavras. Tocas um corpo; um mundo
enche agora as tuas mãos empurra o seu destino.
Estira-se o tempo nos pulmões
silva como um chicote rente aos lábios.
As horas, o instante, detêm-se,
extrais aí a tua pequena parcela de eternidade.
Antes foram os nomes e as datas.
a história tão clara e lúcida de dois rostos distantes.
Depois aquilo a que chamas amor,
talvez se transforme em promessa arrancada,
muro erguido que pretende encerrar
aquilo que só em liberdade pode ganhar-se.
Não importa, agora nada importa.
Tocas um corpo, nele te fundes,
apalpas a vida, real, comum.

Já não estás só.




Juan Luis Panero 








5 comentários:

  1. Esse texto tem uma textura fenomenal..arrasador ..Como sempre saio daqui abismado..e a foto ..No coments.bj

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  2. lembra-me o "toca-me o sangue" do Amadeu Baptista, sempre que tocamos no corpo, mesmo que fragmentado, estamos menos sós.

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  3. Depois aquilo a que chamas amor,
    talvez se transforme em promessa arrancada,
    ...

    Nossa, e como dói quando nos é arrancada...Dói muito. Dói demais...

    E ae vemos, aí sim, o quanto estamos mais sós
    (fundir-se causa vazios maiores)

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  4. que bonito - não conhecia este autor.
    uma bela e agradável surpresa.

    abraços.

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