sábado, 8 de fevereiro de 2014

se




















se eu fosse louco não era um tonto parvo, que fico imóvel perante uma adversidade. se eu fosse louco esquecia que há gente e sociedade e convenções e essas tretas todas e saía já deste emprego estúpido e ia ter contigo. e não me importava nada com quem visse ou estivesse ou comentasse. punha-me a caminho e quando aí chegasse olhava-te, sorria, pousava uma mão em cada uma das tuas faces e beijava-te e beijava-te e beijava-te e o tempo parava e deixava de contar. e sendo louco queria estar despido de tudo o que queria deixar para trás quando te fosse beijar, chegar a ti como um animal, irracional mas puro. se não fosse apenas tonto tirava mesmo a roupa, o casaco logo à entrada, a camisa a subir as escadas, virava à esquerda, desapertava o cinto, livrava-me das calças, virava à direita, tirava o resto e quando chegasse a ti para te beijar estava nu. depois não existia mais nada, apenas nós os dois, e eu só queria saber do teu sabor, da tua boca molhada, desses lábios que queria mordiscar, da tua língua na minha, das palavras que não precisávamos de dizer e desses nossos beijos de mo ra dos em que sabíamos haver um todo maior que as partes, que num beijo assim se salva o mundo, que entre duas bocas há um abismo mas também um evereste e que não éramos loucos, loucos seríamos se não o fizéssemos.







josé luis almeida

























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