Quando me levanto, não sei se estou doente ou se é só a
solidão. Foram estas as tuas palavras ao balcão, entre as pessoas que entravam
e saíam, e nenhuma reparava que havia alguém ali a gritar uma dor que de tão
funda não se ouvia. Mal te conheço, mas depois disto é como se nos
conhecessemos. Talvez um dia use esse batom vermelho, esses brincos dourados de
metal barato a coroar o penteado de cabeleireiro, e no sorriso a mesma largura
triste de uma distância que jamais se alcançará (será ela que nos une uma vez
mais). Antes disso, vou falar-te das minhas manhãs quando me levanto. Um peso
no corpo, uma morte no olhar, corredor estreito por onde os passos avançam em
direcção ao copo onde dissolvo a vitamina C em água. Logo o cigarro, a primeira
baforada, como se uma esperança, embora uma esperança de nada. Seguir para o
banho, copo e cigarro, o espelho em frente, cercado por azulejos brancos
macabros. O resto já sabes, não preciso dizê-lo.
Somos assim dois, eu e tu. Guarda segredo.
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