segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tudo isto é simples:

















Nesta brisa quase suave
de plantas já anoitecidas
quase te toco entre as regas,
e entristeço.
A tua ausência é tão real
como os vastos campos de girassóis
secos, envelhecidos, quase mortos.
Alugo a voz e a expressão
a par de todos os espaços
deste lugar que se inicia.
Tudo isto é simples:
tenho o coração desarrumado.


Vem.








Filipa Leal










15 comentários:

  1. Para te deixar um beijo de bom dia

    "Quero que saibas
    uma coisa.

    Tu já sabes o que é:
    se olho
    a lua de cristal, o ramo rubro
    do lento outono em minha janela,
    se toco
    junto ao fogo
    a implacável cinza
    ou o enrugado corpo da madeira,
    tudo me leva a ti,
    como se tudo o que existe
    aromas, luz, metais,
    fossem pequenos barcos que navegam
    para essas tuas ilhas que me aguardam.

    Pois ora,
    se pouco a pouco deixas de me amar,
    de te amar, pouco a pouco, deixarei.

    Se de repente
    me esqueces,
    não me procures,
    já te esqueci também.

    Se consideras longo e louco
    o vento de bandeiras
    que canta em minha vida
    e te decides
    a me deixar na margem
    do coração no qual tenho raízes,
    pensa
    que nesse dia
    a essa hora
    levantarei os braços
    me nascerão raízes
    procurando outra terra.

    Porém,
    se cada dia,
    cada hora,
    sentes que a mim estás destinada
    com doçura implacável.
    Se cada dia se ergue
    uma flor a teus lábios me buscando,
    ai, amor meu, ai minha,
    em mim todo esse fogo se repete,
    em mim nada se apaga nem se esquece,
    do teu amor, amada, o meu se nutre,
    e enquanto vivas estará em teus braços
    e sem sair dos meus."


    Pablo Neruda,

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  2. '...Então beijo-te: e é como se tocasse o sol, como se a sua chama me queimasse, sem doer, ou como se a luz entrasse por dentro de mim…'

    Nuno Judice

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  3. "... e eu pouco a pouco vou repelindo a noite. E tu dentro de mim vais descobrindo vales."

    Maria Teresa Horta

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  4. '...E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego.'

    Vergílio Ferreira

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  5. "... Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar.
    ... Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.

    Queria de ti um minuto. Um minuto."

    Filipa Leal

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  6. Que poderias fazer com um minuto? :)
    Já escreveste poemas de amor? E cartas de amor... há quanto tempo não escreves uma carta de amor?

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  7. Para quem nunca teve um minuto esse minuto pode ser uma eternidade... o que eu poderia fazer numa eternidade? :)

    Uma carta de amor pode ser um poema, e sim, já escrevi cartas de amor e adoro escrever cartas de amor (ridículas). Poema de amor com intenção de ser poema de amor já escrevi... há tanto tempo... não saiu uma obra prima mas na altura achei bonito :)

    E já cantei canções de amor, e chorei choro de amor, e ri de amor... e de tudo o que foi de amor (e com amor) nunca me arrependi :)

    ".. amei-te cheia de fome e sede...

    ... fiz-te uma cama de espuma e na minha boca dobraste o cabo do medo.
    quando partiste levaste o verão e eu fiquei sentada bordando no ar
    um castelo de beijos..."

    Isabel Mendes Ferreira

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  8. Por falar em escrever poemas e cartas de amor lembrei-me de uma coisa que li no outro dia e fui à procura, para te deixar... junto com um beijo.

    Vasco (teu)

    "Podes dizer ao mundo inteiro que estas letras são tuas. Assim como os desenhos que fiz, os espaços que deixei. Podes dizer a toda a gente que um dia te amei e que foste tu quem me fez poeta. Podes nadar em orgulho ao saber que todos os copos que bebi foram por ti. Que os cigarros que fumei ansiosa e apressadamente foram pela saudade do teu corpo. Quando falarem de raios e relâmpagos, de trovões e de tufões, vais poder dizer que fui eu quem fez a China, quem ergueu muralhas e deitou as lágrimas de sangue.Quando te perguntarem se um dia me conheceste, diz que sim. Responde um afirmativo de poder e de vontade. Podes deixar o medo do conhecimento alheio, agora que te sou realmente alheia. Quando um dia o mundo se desfizer verdadeiramente em estações trocadas - o Verão pelo Outono ou o Inverno pela Primavera - aí podes descansar. Podes contar à galáxia e aos seus sobreviventes que, meu eterno desconhecido, um dia me fizeste rainha."


    José Eduardo Agualusa

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  9. digo-te como me dizia um dos meus filhos há uns tempos, a propósito de ter ou não ter namorada: 'quem me dera mãe, quem me dera' - quem me dera ter escrito cartas de amor de que hoje me lembrasse.

    hoje, chego até ti, agora, com as mãos vazias de poemas.

    dorme bem vasco (teu), sonha com os teus amores, que devem ser muitos :) (e bons..:))

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  10. Não, não foram muitos, foram bons, os que foram amores (que foram poucos) forma muito bons... por isso me lembro das cartas de amor, das que escrevi e das que recebi :)

    "Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
    nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.
    Eu quero apenas amar-te lentamente
    como se todo o tempo fosse nosso
    como se todo o tempo fosse pouco
    como se nem sequer houvesse tempo.
    Soltar os teus seios.
    Despir as tuas ancas.
    Apunhalar de amor o teu ventre."

    Joaquim Pessoa

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  11. schiu! vamos dormir, são horas!:

    ‘Cala-te, a luz arde entre os lábios,
    e o amor não contempla, sempre
    o amor procura, tacteia no escuro,
    essa perna é tua?, esse braço?,
    subo por ti de ramo em ramo,
    respiro rente à tua boca,
    abre-se a alma à língua, morreria
    agora se mo pedisses, dorme,
    nunca o amor foi fácil, nunca,
    também a terra morre.’


    Eugenio de Andrade

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  12. "Sonhei contigo
    embora nenhum sonho possa ter habitantes
    tu, a quem chamo amor,
    cada ano pudesse trazer um pouco mais de convicção
    a esta palavra.

    É verdade
    o sonho poderá ter feito com que,
    nesta rarefacção de ambos,
    a tua presença se impusesse
    como se cada gesto do poema te restituisse um corpo
    que sinto ao dizer o teu nome,
    confundindo os teus lábios
    com o rebordo desta chávena de café já frio…

    Então, bebo-o de um trago.

    o mesmo se pode fazer ao amor,
    quando entre mim e ti
    se instalou todo este espaço
    -terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo
    que o inverno rouba à transparência das fontes.

    É isto, porém, que faz com que a solidão
    não seja mais do que um lugar comum
    saber que existes, aí, e estar contigo
    mesmo que só o silêncio me responda
    quando, uma vez mais te chamo."

    Nuno Júdice

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  13. mas esta manhã,

    'Esta manhã não lavei os olhos -
    pensei em ti.
    Se o teu ouvido se fechou à minha boca
    poderei escrever ainda poemas de amor?
    A arte de amar não me serve para nada.
    Um fogo em luz transformado.
    Subitamente, a sombra
    Há dias em que morro de amor.
    Nos outros, de tão desamado,
    morro um pouco mais.'

    Casimiro de Brito

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  14. Dizes que não escreves cartas de amor, qua nunca o fizeste... pelo contrário, acho que tudo o que escreves, tudo o que te leio, o que leio em ti são cartas de amor.

    Vasco (teu)

    "A meu favor tenho o teu olhar
    testemunhando por mim
    perante juízes terríveis:
    a morte, os amigos, os inimigos.

    E aqueles que me assaltam
    à noite na solidão do quarto
    refugiam-se em obscuros sítios dentro de mim
    quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

    Protege-me com ele, com o teu olhar,
    dos demónios da noite e das aflições do dia,
    fala em voz alta, não deixes que eu adormeça,
    afasta de mim o pecado da infelicidade."


    Manuel António Pina

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  15. 'E sobretudo olhar com incidência. Como se nada se passasse, o que é certo.
    Mas a ti quero olhar-te até estares longe do meu medo, como um pássaro no limite afiado da noite.
    Como uma menina de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esbatido pela chuva.
    Como quando se abre uma flor e se revela o coração que não tem.
    (…)'

    Alejandra Pizarnik

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